Simpósio de Oncologia promove debate sobre a especialidade no século XXI

Medicina personalizada, educação continuada e pesquisa clínica foi o tripé da discussão sobre a Oncologia no século XXI, no simpósio da especialidade que ocorreu no período da tarde. O encontro foi presidido por Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas, e moderado pelo coordenador médico do grupo Oncoclínicas, Pedro de Marchi. Ele também abriu a mesa falando sobre tratamentos alternativos do câncer e avanços que permitem uma maior sobrevida e, principalmente, qualidade de vida do paciente com a doença.

“A gente têm aprendido a lidar com a doença em sua fase metastática. Conseguimos controlá-la com táticas melhores do que fazíamos anteriormente”, afirmou Pedro ao iniciar sua palestra. Ele pontuou que, por muito tempo e até hoje, o tratamento mais usual é com drogas que interferem no ciclo celular, os quimioterápicos clássicos, levando eventualmente a célula cancerígena à morte. No entanto, está claro que outros mecanismos celulares de escape são desenvolvidos a partir desse tratamento, como por exemplo, o aumento da proliferação dessas células. Segundo Pedro, esses mecanismos acabam gerando uma sobrevida aos tumores e para cada um deles existem uma ou mais proteínas fundamentais para que ele aconteça. Atuar na produção de drogas que inibem essas proteínas faz com que se saia de um cenário em que se submete todo o organismo à quimioterapia e se passa para um cenário em que é possível personalizar o tratamento.

Para exemplificar, Pedro trouxe um caso de paciente com câncer em fase de metástase cerebral, com pouca expectativa de vida. Com a terapia alvo escolhida em conjunto com a paciente, ela, que tinha a expectativa de apenas algumas semanas, viveu mais 8 anos com a doença controlada. “Graças a terapia alvo, tivemos um aumento de sobrevida de 11 vezes”, completou Pedro.

Desafios da educação médica continuada no terceiro milênio: oncologia em foco

“Pensar na educação hoje, é se desconstruir”. Assim iniciou a palestra o gerente executivo de ensino do Grupo Oncoclínicas, Dr. Eduardo Maluf, que discutiu e apresentou as propostas educacionais, abordando tudo o que está querendo se construir por lá, levando em consideração os desafios enfrentados na educação. Para ele, em um mundo cada vez mais conectado e digital, as adversidades estão em entender e usar da melhor forma a linguagem e as metodologias.

Eduardo fala sobre como a pandemia acelerou a implementação de uma educação virtual que pudesse atender uma demanda maior. No entanto, neste cenário é necessário pensar em novas metodologias. Uma tendência que já vinha acontecendo mesmo antes da pandemia é o atraso da formação básica, que precisa ser corrigido na educação superior. Depois da fase de isolamento social, a tendência é que daqui a 10 anos o mercado encontre profissionais mal formados, já que o ensino a distância foi tratado como algo emergencial e não uma realidade duradoura.

“A gente está recebendo uma geração nova que é diferente e precisamos estar atentos para quais linguagens serão usadas nas metodologias”, disse Eduardo, ao focar a importância que é acompanhar as mudanças na educação. Para ele, é imprescindível transformar uma pesquisa, por exemplo, em um conhecimento real e prático, trazendo perenidade para a educação.

Pesquisa Clínica e seu impacto para operadoras de saúde

Pedro de Marchi entrou em cena mais uma vez, agora para discutir sobre a pesquisa clínica no Brasil e tudo que a envolve: desenvolvimento, regulamentação, vantagens para os participantes e muito mais.

A pesquisa clínica funciona, na verdade, como um fator para a qualificação da assistência médica. Segundo Pedro, não existe pesquisa clínica sem que haja risco ao participante do experimento. Há, por exemplo, um histórico de situações que submetiam seres humanos as pesquisas sem que houvesse a devida responsabilidade com a vida, principalmente em períodos de grandes guerras. Para isso, surgiu a necessidade de uma primeira regulamentação da pesquisa clínica em todo o mundo, a partir do código de Nuremberg, que previu que não deveria ser conduzido nenhum experimento quando existissem razões para acreditar que ele pode gerar a morte ou invalidez permanente do participante. Apesar de ser o primeiro, não foi o suficiente para evitar abusos, fazendo com que em 1964, este código passasse por uma atualização, ficando conhecido como Declaração de Helsinki. Esta declaração já está em sua sétima versão, sempre sendo atualizada com base na responsabilidade com a vida e o bem estar de quem participa dos experimentos.

Mas como está o Brasil no mapa mundo da pesquisa?

Segundo Pedro, ao analisar apenas a América Latina, nós participamos de apenas 3% dos ensaios clínicos hoje cadastrados, representando um pouco mais de 13 mil estudos na América Latina. Isso mostra uma participação ainda muito discreta e, quando se trata de estudos oncológicos, essa pequena representação se repete. Em 2019, de 3.179 estudos feitos no mundo, o Brasil fez parte de apenas 2%. Para Pedro, o que temos é uma longa caminhada neste sentido, o que não deixa também de ser uma oportunidade de pensar a pesquisa clínica especificamente para a nossa população, levando em consideração nossa miscigenação, pouco encontrada em outros países.