“A cada 4 minutos morre uma pessoa com diabetes no mundo.” Foi assim que o moderador Ivan Ferraz finalizou a manhã do último sábado (22/10), que discutiu sobre as novas abordagens no tratamento do Diabete Mellitus tipo 2. Além dele, o simpósio contou com Cristiane Campello como presidente. Nele, a discussão teve como fio condutor uma só pergunta: o que há de novo no tratamento do diabetes tipo 2?
Para trazer novas abordagens terapêuticas no controle metabólico da doença, a mestre e doutora em endocrinologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Dhiãnah Santini, chamou atenção para os novos objetivos de tratamento, encontrados nas mais recentes diretrizes. Segundo ela, apenas a correção da glicose não é mais o suficiente para um tratamento eficaz. “Se corrigir a glicose não mudar o desfecho da doença, as complicações, a comorbidade, não mudar a história natural do diabetes: isso não faz tanto sentido”, explicou Dhiãnah.
Se antigamente havia medicamentos apenas para a redução da glicose, Dhiãnah pontua que, atualmente, já é possível encontrar remédios que, para além disso, diminuem também os riscos de complicações cardíacas e renais, e que resultam na perda de peso. Dessa forma, o foco está em aumentar a expectativa de vida do paciente, com a qualidade que ele merece.
Tratamento e acessibilidade. O que tem a ver?
“A educação deve ser parte do tratamento para que o paciente tenha condições de fazer o autogerenciamento da doença”, destacou Dhiãnah, ao iniciar a discussão.
Segundo ela, as diretrizes já têm levantado a importância de colocar o paciente como centro do tratamento, considerando características individuais como questões econômicas, sociais e comportamentais. Para isso, Dhiãnah pontua a importância da adequação da linguagem com o paciente, sendo feita de forma acessível para que, além de educá-lo, não reforce estigmas relacionados à doença. “Hoje recomendamos que trate o paciente com diabetes como ‘pessoa com diabetes’ e não mais como ‘diabético’, para não reforçar esse estigma, que muitas vezes faz com que a pessoa se afaste ou crie resistência ao tratamento”, exemplificou.
O papel das novas drogas na proteção cardiorrenal no tratamento do Diabetes tipo 2
Oitenta por cento das pessoas com diabetes tipo 2 morrem por complicações cardiovasculares. Essa é a relevância que o pesquisador do Departamento de Endocrinologia da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC Alexander Benchimol apresentou para discutir os benefícios cardiorrenais nos tratamentos da doença. Trazendo alguns dados importantes, Alexander afirma que nos últimos 10 anos, a medicina para o diabetes foi de alto impacto, sendo marcado por diversos avanços fármacos que possibilitaram a melhor qualidade de vida do paciente. Um deles, é o surgimento de uma nova medicação que bloqueia a hiperativação que gera a inflamação e fibrose tanto no coração, quanto no rim, principais órgãos atingidos no tratamento da doença.
“A gente evoluiu muito tecnologicamente não só em termos de fármacos, mas em termos de controle. Hoje em dia as pessoas têm condições de monitorar a glicose através de um único sensor, vendo em tempo real o que está acontecendo. Isso nos ajuda muito na tomada de decisões de tratamento”, completou Alexander.
Diabetes tipo 2 após a pandemia
Ao ser questionada sobre a importância da discussão do tema após a pandemia, Dhiãnah pontuou ser fundamental que essas novas abordagens no tratamento do diabetes tipo 2 sejam disseminadas em um cenário onde temos ainda mais pessoas em quadros sedentários, com ganho de peso expressivo, por conta do isolamento social. “Hoje, são quase meio bilhão de pessoas no mundo com diabetes. No Brasil, temos 1 a cada 10 adultos com diabetes. Então, precisamos ensinar às pessoas a fazer diagnóstico e tratar precocemente a doença”, completou.