A saúde da mulher também ganhou destaque no VII Congresso Médico Unimed-Rio. O Simpósio sobre cirurgia, ginecologia e mastologia foi dividido em dois blocos. O primeiro deles falou sobre as várias faces da endometriose, e contou com a presidência de Katia Bello (especialista em ginecologia e Diretora Administrativa da Unimed-Rio) e moderação de Paulo Jose Moreira De Macedo (cirurgião geral e coloproctologista) e Carlos Carvalhal Rainho (urologista). Já o segundo bloco, dedicado à discussão sobre o câncer de mama, contou com a presidência de Cláudia Lunardi (ginecologista) e moderação de Erica Motroni (mastologista).
Endometriose
A endometriose, segundo Cláudio Moura, especialista em endoscopia ginecológica e coordenador do Núcleo de Endometriose e Histeroscopia do Hospital Riomar, é a presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina e é uma doença que pode acometer tanto órgãos ginecológicos, quanto órgãos não-ginecológicos. O especialista iniciou o bloco falando sobre a endometriose profunda, os fatores e casos clínicos que levam ao procedimento cirúrgico e a importância da visão do ginecologista e da atuação de uma equipe multidisciplinar no tratamento da doença. “Quando estamos diante da endometriose profunda, o tratamento pode ser clínico ou cirúrgico. E, obviamente, o tratamento não é visar a cura, mas visar a qualidade de vida da paciente”, explicou Cláudio.
A discussão também contou com a visão do urologista José Anacleto. O especialista, chefe do Serviço de Urologia do Hospital Federal da Lagoa (HFL) e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), falou um pouco sobre a endometriose de vias urinárias e a sistematização cirúrgica nesse caso. Assim como Cláudio, Anacleto ressaltou a importância da participação de uma equipe multidisciplinar para tratar a endometriose. “É extremamente importante fazer com que os colegas de diferentes especialidades participem desse processo desde o início, tendo o conhecimento do paciente desde o pré-operatório. É preciso fazer uma avaliação clínica ou outros exames para que possamos entender melhor a doença, compreender o sofrimento dessas pacientes e oferecer o melhor tratamento”, ressaltou.
A discussão sobre endometriose intestinal ficou por conta de Paulo Reis, cirurgião geral e coloproctologista. Durante sua apresentação, o especialista mostrou alguns casos cirúrgicos, focou em explicar qual o melhor tipo de cirurgia para este tipo de endometriose e ressaltou ainda a importância de respeitar a individualidade de cada caso da doença. Segundo ele, cada paciente possui um caso diferente de endometriose e o tratamento precisa ser adaptado de acordo com suas características e individualidades. “Precisamos adaptar a cirurgia à paciente”, completou.
A infertilidade em pacientes com endometriose também foi pauta na discussão. Segundo o ginecologista e obstetra Paulo Gallo, especialista em reprodução humana assistida, vários estudos mostram que pacientes com endometriose podem apresentar alterações na capacidade de migração espermática e na qualidade da ovulação, além de dificuldades na implantação do embrião na cavidade endometrial. “Pacientes com endometriose possuem um processo inflamatório, a nível de cavidade pélvica, que irá interferir nas interações espermocitárias, causando menor chance de engravidar até mesmo na gestação espontânea”, explicou Paulo.
Câncer de mama
No segundo bloco, o assunto foi o câncer que mais acomete mulheres em todo o mundo, o câncer de mama. De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil, são diagnosticados mais de 60 mil novos casos da doença a cada ano.
O mastologista Rafael Szymanski Machado falou um pouco sobre a doença e a relação com a gravidez. Segundo o especialista, o tratamento contra o câncer de mama é bastante agressivo podendo causar alterações no corpo da mulher, como a destruição de óvulos ou indução à menopausa precoce. Esses fatores dificultam a gravidez e, por isso, é comum que médicos sugiram a técnica de congelamento dos óvulos das pacientes antes de iniciar o tratamento. O especialista ressaltou que o ideal é aguardar até o final do tratamento para realizar uma avaliação e identificar o melhor momento para a gravidez. Além disso, Rafael destacou que é importante dar atenção às mamas na gravidez e, quando o câncer de mama ocorre nesse momento, ele pode ser tratado com segurança, exigindo cuidados das equipes de oncologia, mastologia e obstétrica para a garantia do cuidado dos dois pacientes (mulher e seu filho) até o nascimento. O acompanhamento com um mastologista é fundamental durante todo o processo.
Os aspectos da fertilidade no câncer de mama também foi o tema debatido na aula do especialista em reprodução humana assistida, o ginecologista Cássio Sartório, que fechou o painel falando sobre a preservação e intervenção na infertilidade da mulher com câncer. Segundo Cássio, pode-se realizar o congelamento do óvulo ou do embrião. O congelamento de óvulos é uma ótima opção de tratamento onde a decisão futura é exclusiva da mulher. A grande questão é que o óvulo não é um embrião, é só metade de um todo, portanto depende do espermatozoide de um banco ou do parceiro. Além disso, Cássio explicou que o sucesso na reprodução assistida está diretamente ligado à idade da paciente e quantidade de óvulos congelados. “Nossa orientação para essa paciente é em relação a quantidade de óvulos a serem congelados. Quanto mais óvulos, mais chances de se conseguir um bebê. Por exemplo, se uma paciente com idade média de 37 anos, com câncer, conseguir congelar dez óvulos, ela teria em torno de 70% de chance de gravidez”, ressaltou o especialista.